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NOVENA DA IMACULADA. 3 DE DEZEMBRO. QUARTO DIA DA NOVENA

48. CAUSA DA NOSSA ALEGRIA

– A alegria verdadeira chega ao mundo com Maria.

– Ela ensina-nos a ser motivo de alegria para os outros.

– Abandonar toda a tristeza.

I. Ó DEUS, QUE PELA ENCARNAÇÃO do vosso Filho enchestes o mundo de alegria, concedei-nos, aos que veneramos a sua Mãe, causa da nossa alegria, que permaneçamos sempre no caminho dos vossos mandamentos, para que os nossos corações estejam firmes na verdadeira alegria1.

A verdadeira alegria está em Deus, e tudo o que nos chega dEle sempre vem com esse sinal. Quando Deus criou este mundo do nada, e de modo especial quando criou o homem à sua imagem e semelhança, tudo foi uma festa. Há uma alegria contida na expressão com que se conclui o relato da criação: E Deus viu que era muito bom tudo o que tinha feito2. Os nossos primeiros pais desfrutavam de tudo o que existia e exultavam no amor, louvor e gratidão a Deus. Não conheciam a tristeza.

Mas chegou o primeiro pecado, e com ele algo de perturbador envolveu o coração humano. A clara e luminosa alegria foi substituída pelo pesar, e a tristeza infiltrou-se no íntimo das coisas. Com a Imaculada Conceição de Maria, veio ao mundo, silenciosamente, o primeiro fulgor de alegria autêntica. O seu nascimento foi um imenso júbilo para a Santíssima Trindade, que olhava comprazida para o mundo porque nele estava agora presente a Virgem Maria. E com o faça-se, pelo qual Nossa Senhora deu o seu assentimento aos planos divinos da Redenção, esse júbilo derramou-se sobre toda a humanidade.

Quando Deus “quer trabalhar uma alma, elevá-la ao cume do seu amor, estabelece-a primeiro na sua alegria”3. Foi o que a Santíssima Trindade fez com a Virgem. E a plenitude dessa alegria é dupla: em primeiro lugar, porque Maria está cheia de graça, cheia de Deus, como nunca esteve nem chegará a estar nenhuma outra criatura; em segundo lugar, porque desde o momento do seu assentimento à embaixada do Anjo, o Filho de Deus assumiu a natureza humana nas suas entranhas puríssimas: com Ele, chegou aos homens toda a alegria verdadeira. O anúncio do seu nascimento em Belém será levado a cabo com estas significativas palavras: Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo. Nasceu-vos na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor4. Cristo é a grande alegria, que cura as tristezas do coração; e Nossa Senhora foi a Causa da nossa alegria verdadeira, porque com o seu assentimento deu-nos Cristo, e atualmente, todos os dias, nos leva a Ele e no-lo entrega novamente.

O caminho da vida interior conduz a Jesus por meio de Maria. A alegria – não podemos esquecê-lo nunca – é estar com Jesus, ainda que nos vejamos rodeados de dores e contradições por todos os lados; a única tristeza seria não o possuir. “Esta experiência viva de Cristo e da nossa unidade é o lugar da esperança e é, portanto, fonte de gosto pela vida; e deste modo, torna possível a alegria; uma alegria que não se vê obrigada a esquecer ou a censurar nada para ter consistência”5.

II. A VIRGEM LEVA A ALEGRIA aonde quer que vá. E aconteceu que, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo6. É a proximidade de Maria, que leva no seu seio o Filho de Deus, a causa de tanto alvoroço naquela casa, de um alvoroço que até o Batista ainda não nascido manifesta no ventre de sua mãe. “Na presença do Senhor – escreve São João Crisóstomo –, não pode conter-se nem suporta esperar os prazos da natureza, mas procura romper a prisão do seio materno e cuida de dar testemunho de que o Salvador está prestes a chegar”7.

A Virgem ensina-nos a ser causa de alegria para os outros no seio da família, no trabalho, nas relações com as pessoas com quem convivemos ou com quem entramos em contacto, mesmo de passagem, como por exemplo numa entrevista, numa viagem ou no ponto de espera de um ônibus que demora a chegar.

Deve acontecer-nos o mesmo que a essas fontes que existem em muitos povoados, onde as mulheres do lugar vão buscar água. Umas carregam grandes vasilhas, e a fonte as enche; outras são menores, e também ficam cheias até à borda; outras estão sujas, e a fonte as limpa... Sempre acontece que todo o cântaro que vai à fonte volta cheio. E assim deve acontecer na nossa vida: qualquer pessoa que se aproxime de nós deve partir com mais paz, com alegria. Todo aquele que nos visite por estarmos doentes, ou por amizade, vizinhança, relações de trabalho..., deve despedir-se de nós um pouco mais alegre.

A água da fonte, normalmente, vem de outro lugar. A origem da nossa alegria está em Deus, e a Virgem leva-nos a Ele. Quando uma fonte não tem água, enche-se de muita sujidade; como a alma que deixou de ser manancial de paz para os outros, porque possivelmente as suas relações com o Senhor não são claras. “Não há alegria? Então pensa: há um obstáculo entre Deus e mim. – Quase sempre acertarás”8. E uma vez descoberto esse obstáculo, Nossa Senhora ajudar-nos-á a tirá-lo.

A alegria – ensina São Tomás de Aquino – nasce do amor9. E o amor tem tanta força “que esquecemos a nossa alegria para alegrar aqueles que amamos. E verdadeiramente é assim, a tal ponto que, mesmo que sejam grandíssimos os trabalhos, sabendo que contentam a Deus, tornam-se doces”10. O trato com Jesus faz-nos passar por cima das diferenças ou pequenas antipatias que podem surgir em algum momento, para chegarmos ao fundo da alma daqueles com quem convivemos, freqüentemente sedentos de um sorriso, de uma palavra amável, de uma resposta cordial.

Neste quarto dia da Novena à Imaculada, podemos examinar como é a nossa alegria: se é caminho para que os outros encontrem a Deus, se somos luz e não cruz para aqueles com quem estamos habitualmente numa relação mais intensa. Hoje, podemos oferecer a Nossa Senhora o propósito firme e sincero de ser semeadores de alegria, de “tornar amável e fácil o caminho aos outros, que já bastantes amarguras traz a vida consigo”11. É um modo cordial de imitarmos a Virgem, que dos Céus nos sorrirá e nos animará a seguir por esse caminho ao encontro do seu Filho. E isso tanto nos dias em que nos seja fácil alegrar os outros, como também naqueles em que, por cansaço ou por estarmos sobrecarregados, sorrir e manifestar bom-humor nos custe um pouco mais. Nessas ocasiões, a nossa Mãe do Céu – Mater amabilis – ajudar-nos-á especialmente.

III. AQUELES QUE ESTIVERAM perto de Nossa Senhora participaram da imensa alegria e da paz inefável que inundavam a sua alma, pois nEla se refletia “a riqueza e a formosura com que Deus a engrandeceu. Principalmente, por ter sido redimida e preservada em Cristo, e nEla reinarem a vida e o amor divinos. A isso se referem algumas invocações da ladainha: Mãe amável, Mãe admirável, Virgem prudentíssima, poderosa, fiel... Sempre uma nova alegria brota dEla, quando está diante de nós e a olhamos com respeito e amor. E se, ao contemplá-la, alguma fração da sua formosura vem e penetra na nossa alma, tornando-a também formosa, como se torna grande a nossa alegria!”12 Não nos custa nada imaginar como todos os que tiveram a felicidade de conhecê-la desejariam estar perto dEla! Os vizinhos viriam com freqüência à sua casa, e os amigos, e os parentes... Ninguém ouviu dos seus lábios queixas ou lamentações pessimistas, mas presenciou apenas os seus desejos de servir, de dar-se, convertidos em detalhes.

Quando a alma está alegre – com penas e lágrimas, às vezes – extravasa-se e é estímulo para os outros; a tristeza, pelo contrário, obscurece o ambiente e faz-lhe mal. Assim como a traça come o vestido, e o caruncho a madeira, assim a tristeza prejudica o coração do homem13; e prejudica a amizade, a vida de família..., tudo: predispõe para o mal. Por isso, devemos lutar rapidamente contra esse estado de ânimo, se alguma vez nos pesa no coração: Fixa o teu coração na santidade do próprio Deus e afugenta para longe de ti a tristeza. Porque a tristeza tem matado a muitos, e não há utilidade nela14.

O esquecimento de si mesmo, uma serena despreocupação pelos problemas próprios, que poucas vezes são realmente importantes, uma confiança mais plena em Deus são condições necessárias para estarmos alegres e servirmos os que nos rodeiam. Quem anda preocupado consigo mesmo dificilmente encontrará a alegria, que é abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, a nossa alegria será em muitas ocasiões um caminho para que os outros encontrem a Deus.

A oração abre a alma ao Senhor, e é nela que podemos encontrar forças para aceitar uma contrariedade, para abandonar nas mãos de Deus as coisas que nos preocupam; é a oração que nos leva a ser mais generosos e a fazer uma boa Confissão, se a raiz da nossa tristeza e mau-humor estiver na tibieza ou no pecado.

Terminamos a nossa oração dirigindo-nos à Virgem: “Causa nostrae laetitiae!, Causa da nossa alegria, rogai por nós! Ensinai-nos a saber acolher na fé o paradoxo da alegria cristã, que nasce e floresce da dor, da renúncia, da união com o vosso Filho crucificado: fazei com que a nossa alegria seja sempre autêntica e plena, para podermos comunicá-la a todos”15.

Ofereçamos à nossa Mãe do Céu, neste dia da Novena, o firme propósito de rejeitarmos sempre a tristeza e de sermos causa de paz e de alegria para os outros.

(1) Missas da Virgem Maria, II, Missa de Santa Maria, Causa da nossa alegria. Oração coleta; (2) Gên 1, 31; (3) M. D. Philippe, Mistério de Maria, pág. 134; (4) Lc 2, 10-11; (5) L. Giussani, La utopia y la presencia, em 30 Dias, 8.9.1990, pág. 9; (6) Lc 1, 41; (7) São João Crisóstomo, Sermão recolhido por Metafrasto; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 662; (9) São Tomás, Summa theologica, II-II, q. 28, a. 4; (10) Santa Teresa, Livro das Fundações, 5, 10; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 63; (12) F. M. Moschner, Rosa mística, Rialp, Madrid, 1957, pág. 180; (13) Prov 25, 20; (14) Ecle 30, 24-25; (15) João Paulo II, Homilia, 31-V-1979.

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